Chernobil: Consequências da Catástrofe para as Pessoas e o Meio Ambiente
Artigo científico mostrando como o acidente da Usina Nuclear de Chernobil pode ter ceifado a vida de quase 1 milhão de pessoas durante os primeiros 23 anos após a tragédia. Traduzi a última parte porque são as conclusões dos autores, ou seja, o que ocorreu com as pessoas e o meio ambiante devido a radiação.
Tradução da parte 15 (pág 318 a 327) do artigo “Chernobyl - Consequences of the Catastrophe for People and the Environment” por Alexey V. YABLOKOV, Vassily B. NESTERENKO e Alexey V. NESTERENKO publicado pela Academia de Ciências de Nova York no “Annals of the New York Academy of Sciences”, Volume 1181 em 2009.
*Se alguém identificar erros na tradução insisto que deixe um comentário uma vez que existem muitos termos técnicos da área médica e nuclear.
Chernobil:
Consequências da Catástrofe para as Pessoas e o Meio Ambiente
15. Consequências
da Catástrofe de Chernobil para Saúde Pública e o Meio Ambiente 23 Anos Depois
Por
Alexey V. Yablokov, Vassily B. Nesterenko, e Alexey V. Nesterenko
Mais de 50% dos radionuclídeos de
Chernobil foram dispersos fora da Bielorrússia, Ucrânia e da Rússia europeia e
provocou precipitações tão distantes como na América do Norte. Em 1986 quase
400 milhões de pessoas viviam em áreas contaminadas radioativamente com um nível
superior a 4 kBq/m2 e cerca de 5 milhões de pessoas ainda estão
sendo expostas a níveis perigosos de contaminação. O aumento da morbidade,
envelhecimento precoce, e mutações foi observado em todos os territórios
contaminados que foram estudados. O aumento nas taxas de mortalidade total para
os primeiros 17 anos na Rússia europeia foi de até 3,75% e na Ucrânia, foi de até
4,0%. Os níveis de radiação interna estão aumentando devido às plantas que
absorvem e reciclam Cs-137, Sr-90, Pu e Am. Nos últimos anos os níveis internos
de Cs-137 ultrapassaram 1 mSv/ano, que é o considerado "seguro",
esses devem ser reduzidos para 50 Bq/kg em crianças e 75 Bq/kg em adultos.
Práticas úteis para fazer isso incluem a aplicação de fertilizantes minerais em
terras agrícolas, lignina organossolúvel e K em florestas e consumo individual
regular de solventes parentéricos de pectina natural. Ajuda internacional em larga escala é necessária
para fornecer proteção contra radiação para as crianças, especialmente na
Bielorrússia, onde ao longo dos próximos 25 a 30 anos radionuclídeos
continuarão a contaminar plantas através das camadas das raízes no solo.
Populações irradiadas de plantas e animais exibem uma variedade de deformidades
morfológicas e têm níveis significativamente mais elevados de mutações que eram
raras antes de 1986. A zona de Chernobil é um "buraco negro": algumas
espécies persistem apenas através da migração de áreas não contaminadas.
A explosão
do quarto bloco da
central nuclear de Chernobil na Ucrânia
em 26 de abril de 1986 foi o pior acidente tecnogênico da história. A informação apresentada nas primeiras 14
partes deste volume foi abstraída a partir dos milhares de
artigos científicos e outros materiais citados. O que se segue aqui é um
resumo dos principais resultados desta meta-análise das consequências
da catástrofe de Chernobil.
A principal abordagem metodológica desta meta-análise é revelar as consequências de Chernobil, comparando as diferenças entre populações, incluindo territórios ou subgrupos que tiveram e têm diferentes níveis de contaminação, mas são comparáveis entre si em suas características étnicas, biológicas, sociais e econômicas. Esta abordagem é claramente mais válida do que tentar encontrar correlações "estatisticamente significativas" entre as diversas doses recebidas pelas populações que são impossíveis de quantificar após o fato e os resultados na saúde que são definidos precisamente por dados de morbidade e mortalidade.
15.1. A
Escala Global da Catástrofe
1. Como resultado da catástrofe, 40% da Europa foi contaminada
com radioatividade perigosa.
A Ásia e América do Norte também foram expostas a quantidades significativas de precipitação
radioativa. Países contaminados
incluem a Áustria, Finlândia, Suécia, Noruega, Suíça,
Romênia, Grã-Bretanha, Alemanha, Itália, França, Grécia,
Islândia e Eslovênia, bem como amplos
territórios na Ásia, incluindo a
Turquia, Geórgia, Arménia, os Emirados,
China, e norte da África. Cerca de 400 milhões de pessoas estavam
em áreas onde a radioatividade excedeu
o nível de 4 kBq/m2
(≥ 0,1 Ci/km2) durante
o período de abril a julho de 1986.
2. A Bielorrússia em especial foi fortemente contaminada. Vinte e três anos
depois da catástrofe cerca de 5 milhões de pessoas, incluindo cerca de 1
milhão de crianças, vivem em vastas
áreas da Bielorrússia, Ucrânia e Rússia
europeia, onde níveis perigosos de
contaminação radioativa persistem (ver
Capítulo 1).
3. A reivindicação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA),
o Comitê Científico das Nações Unidas sobre
os Efeitos da Radiação Atômica (UNSCEAR),
e vários outros grupos que a precipitação radioativa de Chernobil acrescentou "apenas" 2% a radiação de fundo natural ignora vários
fatos:
• Primeiro,
muitos territórios continuam a ter
níveis perigosamente elevados de radiação.
• Segundo, altos níveis de radiação foram espalhados por toda parte nas primeiras semanas depois da catástrofe.
• Segundo, altos níveis de radiação foram espalhados por toda parte nas primeiras semanas depois da catástrofe.
• Terceiro,
haverá décadas de contaminação crônica de baixo nível, após a
catástrofe (Fig. 15.1).
catástrofe (Fig. 15.1).
• Quarto,
cada aumento de radiação nuclear tem um efeito sobre as células somáticas e reprodutivas de todos os seres vivos.
4. Não há justificativa científica para o fato de que especialistas da AIEA e da Organização
Mundial da Saúde (OMS) (Chernobyl Forum, 2005) terem negligenciado completamente os extensos dados sobre as consequências negativas da contaminação radioativa em outras áreas
além da Bielorrússia, Ucrânia e Rússia europeia, onde cerca de 57% dos radionuclídeos de Chernobil foram depositados.
15.2.
Obstáculos para a Análise das Consequências de Chernobil
1. Entre as razões que complicam uma estimativa em escala global do impacto da catástrofe de Chernobil na saúde estão as seguintes:
• Política
oficial de segredo e falsificação
irreparável das estatísticas
médicas na União Soviética nos primeiros 3,5 anos
depois da catástrofe.
• Falta de
estatísticas médicas confiáveis e detalhadas na Ucrânia, Bielorrússia e Rússia.
• Dificuldade
em estimar as reais doses radioativas
individuais, em vista de: (a) reconstrução das doses nos primeiros
dias, semanas e meses após a
catástrofe, (b) incerteza quanto
à influência de “partículas
quentes” individuais; (c) problemas quanto à
contaminação desigual e irregular,
e (d) a incapacidade para determinar a influência de cada um dos muitos radionuclídeos,
isoladamente e combinados.
• Inadequação do conhecimento moderno, quanto
a: (a) o efeito específico de cada um
dos muitos radionuclídeos; (b)
sinergia das interações de radionuclídeos entre si e com outros fatores ambientais, (c) diferenças
da radiossensibilidade da população e individual; (d) impacto das taxas e
doses ultrabaixas e (e) o impacto
da radiação absorvida internamente em vários
órgãos e sistemas biológicos.
2. A demanda dos especialistas da AIEA e OMS que exigiram uma "correlação
significativa" entre os níveis imprecisamente calculados de radiação individual
(e, portanto, grupos de indivíduos)
e as doenças diagnosticadas com precisão como a única prova concreta associando
doenças com a radiação de Chernobil não é, em nosso
ponto de vista, cientificamente válido.
3. Acreditamos que é cientificamente incorreto rejeitar dados gerados por muitos milhares de cientistas, médicos e outros especialistas que observaram diretamente o sofrimento de milhões de pessoas afetadas pela precipitação radioativa na Bielorrússia, Ucrânia e Rússia como "incompatíveis com protocolos científicos." É cientificamente válido encontrar maneiras de extrair informações válidas a partir desses dados.
4. A informação objetiva sobre
o impacto da catástrofe de Chernobil sobre a saúde pode ser obtida de várias maneiras:
• Comparar a morbidade e a
mortalidade de territórios com idênticos aspectos fisiográficos, sociais e
econômicos e que diferem apenas nos níveis e espectro da contaminação
radioativa a que foram e estão sendo expostos.
• Comparar a saúde do mesmo
grupo de indivíduos durante períodos específicos após a catástrofe.
• Comparar a saúde do mesmo
indivíduo em relação a desordens ligadas à radiação e que não são função da
idade ou sexo (e.g., aberrações cromossómicas estáveis).
• Comparar a saúde dos
indivíduos que vivem em territórios contaminados medindo o nível de Cs-137,
Sr-90, Pu e Am incorporado. Este método é especialmente eficaz na avaliação de
crianças que nasceram depois da catástrofe.
• Correlacionar alterações
patológicas em órgãos específicos, medindo os níveis de radionuclídeos
incorporados.
A documentação objetiva das consequências da
catástrofe requer a análise do estado de saúde de cerca de 800,000 liquidadores (as pessoas responsáveis pela
limpeza de Chernobil), centenas de milhares de desabrigados, e aqueles que voluntariamente
deixaram os territórios contaminados da Bielorrússia, Ucrânia e
Rússia (e seus filhos), que estão
vivendo agora fora destes
territórios, até mesmo em outros
países.
5. É necessário determinar territórios na Ásia (incluindo o Transcáucaso, Irã, China, Turquia, Emirados), norte da África e América do Norte que foram expostos à precipitação de Chernobil de abril a julho de 1986 e analisar as estatísticas médicas detalhadas destes territórios e seus arredores.
15.3.
Consequências para a Saúde devido à Chernobil
1. Um aumento significativo da morbidade geral é aparente em
todos os territórios estudados contaminados por Chernobil.
2. Dentre específicos transtornos de saúde
associados à radiação de Chernobil, houve um aumento da morbidade e prevalência dos seguintes grupos de doenças:
• Sistema circulatório (devido principalmente à
destruição radioativa do endotélio,
o revestimento interno dos vasos
sanguíneos).
• Sistema
Endócrino (especialmente patologias de tireoide não-maligna).
• Sistema
Imunológico ("AIDS de Chernobil," aumento da incidência
e da gravidade de todas as doenças).
• Sistema respiratório.
• Trato urogenital e
distúrbios reprodutivos.
• Sistema esquelético-muscular (incluindo
alterações patológicas na estrutura e
composição dos ossos: osteopenia e osteoporose).
• O sistema
nervoso central (alterações nos lobos frontal, temporal e ocipitoparietal
do cérebro, acarretando inteligência
diminuída e distúrbios mentais e comportamentais).
• Olhos
(catarata, destruição vítrea,
anomalias de refração e desordens
conjuntivas).
• Aparelho digestivo.
• Aparelho digestivo.
• Malformações
congênitas e anomalias (incluindo, anteriormente, raros defeitos múltiplos dos membros e cabeça).
• Câncer de tireoide (Todas as previsões relativas a este câncer foram errôneas; cânceres de tireoide relacionados com Chernobil se instalam rapidamente e tem desenvolvimento agressivo,
atingindo tanto crianças como adultos. Após
a cirurgia, as pessoas se tornam
dependentes de medicamentos para
reposição hormonal por toda a vida).
• Leucemia
(câncer no sangue), não apenas em
crianças e liquidadores, mas na
população adulta em geral dos territórios contaminados.
população adulta em geral dos territórios contaminados.
• Outras
neoplasias malignas.
3. Outras consequências para a saúde da catástrofe:
• Alterações
no equilíbrio biológico do
organismo, levando ao aumento do número de doenças graves devido à toxicoses intestinais, infecções
bacterianas e sepse.
•
Intensificação das doenças infecciosas e parasitárias (por exemplo, hepatites
virais e viroses respiratórias).
• Maior
incidência de problemas de saúde em
crianças nascidas de pais irradiados (tanto de liquidadores
quanto indivíduos que deixaram os territórios contaminados),
especialmente aqueles irradiados no
útero. Estes distúrbios envolvem praticamente
todos os órgãos e sistemas do corpo, também incluem mudanças genéticas.
• Estado catastrófico da saúde dos liquidadores (especialmente aqueles
que trabalharam em 1986-1987).
• Envelhecimento prematuro tanto de adultos quanto crianças.
• Maior incidência
de mutações múltiplas genéticas e somáticas.
4. Doenças crônicas associadas à contaminação
radioativa estão disseminadas em liquidadores
e na população vivendo em territórios contaminados. Entre esses indivíduos polimorbidade
é comum, ou seja, as pessoas são muitas
vezes afetadas por múltiplas
doenças ao mesmo tempo.
5. Chernobil “enriqueceu” a medicina no mundo com termos como "rejuvenescimento do câncer", bem como três novas síndromes:
•
"Distonia vegetovascular" – regulação disfuncional
do sistema nervoso envolvendo órgãos
cardiovasculares e outros (também
chamado de disfunção do sistema nervoso
autônomo), com sinais clínicos que
se apresentam em um contexto de estresse.
•
"Radionuclídeos de longa-vida incorporados" – distúrbios
funcionais e estruturais dos sistemas cardiovascular,
nervoso, endócrino, reprodutivo entre
outros devido aos radionuclídeos absorvidos.
• "Lesões
agudas de inalação no sistema respiratório superior"
– uma combinação de rinite, irritação na
garganta, tosse seca, dificuldade para respirar e falta
de ar devido ao efeito da inalação de radionuclídeos,
incluindo "partículas quentes".
6. Várias novas síndromes, refletindo o aumento da incidência de algumas doenças,
apareceram depois de Chernobil. Entre elas:
• "Síndrome
da fadiga crônica" – fadiga excessiva e sem alívio, fadiga sem
causa aparente, depressão periódica,
perda de memória, dores articulares e musculares difusas,
calafrios e febre, alterações frequentes de humor, sensibilidade linfonodal cervical, perda de peso, e também é frequentemente associada com disfunção do sistema imunológico e doenças do sistema nervoso
central.
• "Síndrome
da doença de irradiação prolongada" – uma combinação de fadiga excessiva,
tontura, tremores, e dor nas costas.
• "Síndrome
do envelhecimento precoce" – uma divergência
entre a idade física e cronológica com doenças características de idosos ocorrendo em
jovens.
7. Síndromes específicas de Chernobil como "irradiação no útero", "AIDS de Chernobil", "coração de
Chernobil", "membros de
Chernobil", e outras aguardam
descrições médicas mais detalhadas e definitivas.
8. O quadro completo de deterioração da saúde nos territórios contaminados ainda está longe de completa, apesar de uma grande quantidade de dados. A pesquisa médica, biológica e radiológica precisa aumentar e ser apoiada para fornecer o quadro completo das consequências de Chernobil. Em vez disso, essa pesquisa tem sido suprimida na Rússia, Ucrânia e Bielorrússia.
9. Deterioração da saúde pública (especialmente das crianças) nos territórios contaminados por Chernobil 23 anos depois da catástrofe não é devido ao estresse psicológico ou radiofobia, ou reassentamento, mas é sobretudo e principalmente devido à radiação de Chernobil. Sobreposto ao primeiro forte choque em 1986 está a contínua exposição crônica de radionuclídeos de pequenas doses com baixas taxas.
10. Fatores psicológicos ("fobia de
radiação") simplesmente não podem ser a razão definitiva porque a morbidade continuou a aumentar durante alguns anos após a catástrofe,
enquanto as preocupações quanto a radiação diminuíram. E qual é o nível
de fobia de radiação entre ratazanas, andorinhas, rãs e pinheiros que demonstram semelhantes problemas
de saúde, incluindo taxas de mutação aumentadas? Não há dúvida que fatores sociais e econômicos são terríveis para os doentes devido
à radiação. Crianças doentes, deformadas
e deficientes, morte de familiares e amigos, perda de emprego e deslocamento
são sérios fatores de estresse financeiro
e mental.
15.4. Número
Total de Vítimas
1. As primeiras estimativas oficiais da AIEA e OMS previram poucos casos
adicionais de câncer. Em 2005,
o Chernobyl Forum declarou que o número total de mortos por causa da catástrofe
seria de cerca de 9.000 e o número de doentes cerca
de 200.000. Estes números não
conseguem distinguir doenças e mortes relacionadas à radiação de mortalidade e morbidade natural de uma grande base populacional.
2. Logo após a catástrofe a expectativa média de vida diminuiu visivelmente enquanto morbidade e mortalidade aumentaram em crianças e idosos na União Soviética.
3. Comparações estatísticas detalhadas de territórios altamente contaminados com os territórios pouco contaminados mostraram um aumento na taxa de mortalidade na parte contaminada da Rússia europeia e Ucrânia de 3,75% e 4,0%, respectivamente, entre os primeiros 15 a 17 anos após a catástrofe.
4. De acordo com avaliações baseadas em análises detalhadas de estatísticas demográficas oficiais nos territórios contaminados da Bielorrússia, Ucrânia e Rússia europeia, o número de mortes adicionais por causa de Chernobil para os primeiros 15 anos após a catástrofe chega a cerca de 237.000 pessoas. É seguro assumir que o total de mortes devido a Chernobil do período de 1987 a 2004, atingiu cerca de 417.000 em outras partes da Europa, Ásia e África, e quase 170.000 na América do Norte, resultando em quase 824.000 mortes no mundo.
5. Os números de vítimas de Chernobil continuarão a aumentar por várias gerações.
15.5. Liberações
de Chernobil e as Consequências Ambientais
1. O transporte de radionuclídeos
de Chernobil de meia-vida longa pela
água, ventos e
animais migratórios causa (e
continuará a causar) contaminação radioativa secundária a centenas e milhares de quilômetros de distância da central nuclear ucraniana Chernobil.
2. Todas as previsões iniciais de remoção rápida ou decaimento dos radionuclídeos de Chernobil do ecossistema estavam erradas: está levando muito mais tempo do que previsto porque eles recirculam. O estado geral de contaminação na água, ar e solo parece flutuar muito e a dinâmica da contaminação de Sr-90, Cs-137, Pu e Am ainda apresentam surpresas.
3. Como resultado da acumulação de Cs-137, Sr-90, Pu e
Am na camada das raízes
do solo, radionuclídeos continuaram
a acumular nas plantas nos
últimos anos. Movimentando-se com a água para as partes superiores das plantas, os radionuclídeos (que anteriormente tinham
desaparecido da superfície) concentram-se nos componentes comestíveis, resultando
em altas doses e níveis de radiação
interna nas pessoas, apesar da decrescente
quantidade total de radionuclídeos
devido à desintegração natural ao longo do tempo.
4. Como resultado da bioacumulação de radionuclídeos, a quantidade nas plantas, fungos e animais pode aumentar 1.000 vezes em comparação com concentrações no solo e na água. Os fatores de acumulação e de transição variam consideravelmente em cada estação, mesmo para a mesma espécie, tornando difícil discernir níveis perigosos de radionuclídeos em plantas e animais que parecem ser seguros para comer. Apenas um monitoramento direto pode determinar os níveis reais.
5. Em 1986, os níveis de radiação
em plantas e animais na Europa ocidental,
América do Norte, Ártico, e Ásia oriental eram, por vezes, centenas e até milhares de vezes acima dos padrões aceitáveis. O pulso inicial de alto
nível de radiação seguido pela
exposição crônica a baixos níveis de
radionuclídeos resultou em distúrbios
morfológicos, fisiológicos e genéticos em todos os organismos vivos nas áreas contaminadas que foram estudados – plantas, mamíferos,
aves, anfíbios, peixes, invertebrados,
bactérias e vírus.
6. Vinte anos depois da catástrofe todos os animais de caça nas áreas contaminadas da Bielorrússia, Ucrânia e Rússia europeia têm altos níveis de radionuclídeos de Chernobil. Ainda é possível encontrar alces, javalis e corças que foram perigosamente contaminados na Áustria, Suécia, Finlândia, Alemanha, Suíça, Noruega e vários outros países.
7. Todas as populações afetadas de plantas e animais que foram objetos de estudos detalhados mostram uma grande variedade de deformidades morfológicas que eram raras ou desconhecidas antes da catástrofe.
8. A estabilidade do desenvolvimento individual
(determinado pelo nível de simetria
flutuante – um método específico para a detecção do nível de instabilidade do desenvolvimento individual)
reduziu em todas as plantas,
peixes, anfíbios, pássaros e mamíferos que
foram estudados nos territórios contaminados.
9. O número dos grãos de pólen geneticamente anômalos e
subdesenvolvidos e esporos no
solo contaminado radioativamente por Chernobil indica uma perturbação
geobotânica.
10. Todas as plantas, animais e micro-organismos que foram estudados nos territórios contaminados por Chernobil têm níveis significativamente mais elevados de mutações do que aqueles em áreas menos contaminadas. A exposição crônica à baixa dose nos territórios de Chernobil resulta em uma acumulação transgeracional de instabilidade genômica, que se manifesta com efeitos celulares e sistêmicos. As taxas de mutação em alguns organismos aumentaram durante as últimas décadas, apesar da diminuição no nível local de contaminação radioativa.
11. A vida selvagem na zona altamente
contaminada de Chernobil, por vezes, parece florescer, mas a
aparência é enganadora. De acordo
com testes morfogenéticos,
citogenéticos e imunológicos, todas as populações de plantas, peixes,
anfíbios e mamíferos que foram estudados
estão em condições precárias. Esta zona
é análoga a um "buraco negro"
– algumas espécies só perseveram
ali através de migração de áreas
não contaminadas. A zona de Chernobil é a "caldeira"
microevolutiva onde os genes dos seres vivos
estão se transformando, com
consequências imprevisíveis.
12. O que aconteceu com ratazanas e sapos na zona de Chernobil evidencia o que pode acontecer aos seres humanos em gerações futuras: aumento das taxas de mutação, aumento da morbidade e mortalidade, expectativa de vida reduzida, diminuição da intensidade de reprodução e mudanças na proporção entre os sexos masculino/feminino.
13. Para uma melhor compreensão dos processos
de transformação da vida selvagem
nas áreas contaminadas por Chernobil,
estudos científicos radiobiológicos e outros não devem ser
interrompidos, como aconteceu em todos os lugares
da Bielorrússia, Ucrânia e Rússia,
mas devem ser ampliados e intensificados para melhor compreender e ajudar a mitigar as consequências esperadas e
inesperadas.
15.6.
Esforços Sociais e Ambientais para Minimizar as Consequências da Catástrofe
1. Para centenas de milhares de indivíduos
(em primeiro lugar, na Bielorrússia,
mas também em vastos territórios da
Ucrânia, Rússia, e em algumas áreas de outros países) a radiação adicional de Chernobil ainda
excede o nível considerado "seguro"
de 1 mSv/ano.
2. Atualmente para as pessoas que vivem nas regiões contaminadas da Bielorrússia, Ucrânia e Rússia, 90% da dose de radiação nelas é devido ao consumo de alimentos locais contaminados, por isso medidas devem ser disponibilizadas para livrar seus corpos dos radionuclídeos incorporados (ver Capítulo IV. 12-14).
3. Várias medidas foram
tomadas para produzir alimentos
limpos e reabilitar o povo da
Bielorrússia, Ucrânia e Rússia europeia. Estas incluem
a aplicação de quantidades
adicionais de fertilizantes selecionados,
programas especiais para reduzir os níveis de radionuclídeos em produtos agrícolas e carne, organizar
alimentos livre de radionuclídeos para
escolas e creches e programas
especiais para reabilitar crianças
periodicamente realocando-as para locais não contaminados. Infelizmente essas medidas não são suficientes para aqueles que dependem de alimentos de
suas hortas individuais, ou das florestas locais e cursos d’água.
4. É extremamente importante desenvolver medidas para diminuir o acúmulo de Cs-137 dos habitantes das áreas contaminadas. Estes níveis, que são baseadas em dados disponíveis sobre o efeito de radionuclídeos incorporados na saúde, são de 30 a 50 Bq/kg para crianças e de 70 a 75 Bq/kg para adultos. Em algumas aldeias da Bielorrússia, em 2006, algumas crianças tinham níveis de até 2.500 Bq/kg!
5. A experiência do Instituto BELRAD na Bielorrússia
demonstrou que medidas de desincorporação devem ser introduzidas quando os níveis de Cs-137 se
tornarem maiores que 25 a 28
Bq/kg. Isto corresponde a 0,1 mSv/ano, o mesmo nível que de acordo com a UNSCEAR uma pessoa inevitavelmente
recebe de radiação externa vivendo nos
territórios contaminados.
6. Devido ao consumo individual e familiar de alimentos e a variável disponibilidade local de alimentos, monitoramento permanente de radiação em produtos alimentares locais é necessário em conjunto com medições de níveis de radionuclídeos individuais, especialmente em crianças. Deve haver um enrijecimento generalizado nos níveis admissíveis de radionuclídeos em alimentos locais.
7. A fim de diminuir a radiação a um nível considerado seguro (1 mSv/ano) para aqueles em áreas contaminadas da Bielorrússia, Ucrânia e Rússia é considerado boa prática:
• Aplicar
fertilizantes minerais pelo menos
três vezes por ano em todas as terras agrícolas, incluindo hortas,
pastos e campos de feno.
• Adicionar lignina solúvel
e K em ecossistemas florestais dentro
de um raio de até 10 km de
assentamentos para a redução efetiva de Cs-137
em cogumelos, nozes e frutas silvestres que
são importantes alimentos locais.
• Fornecer
consumo individual regular de solventes parentéricos de pectina natural (derivado de maçãs,
groselhas, etc) durante 1 mês,
pelo menos quatro vezes por ano e incluir
sucos com pectina
diariamente para crianças em creches e escolas para promover
a excreção de radionuclídeos.
• Adotar medidas preventivas em leite, carne, peixe, vegetais e outros
produtos alimentares locais para
reduzir os níveis de radionuclídeos.
• Usar solventes
parentéricos (ferrocianetos, etc) quando animais de
corte estiverem na engorda.
8. Para diminuir os níveis de doenças e promover a reabilitação é uma boa prática nas áreas contaminadas fornecer:
•
Avaliação individual anual de níveis
reais de radionuclídeos incorporados usando um contador de radiação de corpo inteiro (para crianças, isto deve ser feito trimestralmente).
• Reconstrução
de todos os níveis individuais de radiação externa do período inicial após a catástrofe
usando dosimetria EPR e medição de aberrações
cromossômicas, etc. Isto deve incluir
todas as vítimas, incluindo aqueles que
saíram das áreas contaminadas –
liquidadores, evacuados e migrantes
voluntários e seus filhos.
• Consultas
genéticas obrigatórias nos territórios
contaminados (e voluntária para
todos os cidadãos em idade fértil) devido aos graves riscos de malformações congênitas nos descendentes. Usando as características e o espectro de mutações no sangue ou na medula óssea de futuros pais, é possível definir o risco de dar à luz a uma criança com graves malformações genéticas e assim evitar tragédias familiares.
todos os cidadãos em idade fértil) devido aos graves riscos de malformações congênitas nos descendentes. Usando as características e o espectro de mutações no sangue ou na medula óssea de futuros pais, é possível definir o risco de dar à luz a uma criança com graves malformações genéticas e assim evitar tragédias familiares.
• Diagnóstico pré-natal de graves malformações congênitas e apoio a programas de aborto
para as famílias que vivem nos territórios contaminados da Bielorrússia, Ucrânia e Rússia.
• Triagem
oncológica regular e práticas médicas preventivas
e antecipatórias para a população
dos territórios contaminados.
9. A catástrofe de Chernobil mostrou claramente
que é impossível fornecer
proteção contra a contaminação
radioativa usando apenas recursos
nacionais. Nos primeiros 20 anos,
o dano econômico direto à
Bielorrússia, Ucrânia e Rússia ultrapassou
500 bilhões de dólares. Para mitigar
algumas das consequências, a Bielorrússia gasta cerca de 20% do
seu orçamento anual nacional, a Ucrânia até 6% e a Rússia até 1%. Ajuda internacional em larga escala será necessária para proteger as crianças por
pelo menos nos próximos 25 a 30 anos,
especialmente aquelas na Bielorrússia porque
os radionuclídeos permanecem nas camadas de raízes mais profundas do
solo.
10. O não fornecimento de iodo estável em abril de 1986 para aqueles nos territórios contaminados levou a um aumento substancial no número de vítimas. Doenças
de tireoide são uma das primeiras
consequências quando uma usina nuclear
falha, portanto um sistema confiável é necessário para levar esta substância química simples para todos aqueles no caminho da contaminação nuclear. Está claro que os países com usinas
nucleares devem ajudar a todos os
países estocar iodeto de potássio
em caso de outra catástrofe da uma usina nuclear.
11. A tragédia de Chernobil mostrou que sociedades em qualquer lugar (e especialmente no Japão, França, Índia, China, Estados
Unidos e Alemanha) devem considerar a importância da monitorização independente
de radiação de alimentos e níveis individuais de radiação com o objetivo de amenizar o perigo e
prevenir danos adicionais.
12. O monitoramento de radionuclídeos incorporados, especialmente em crianças, é necessário em torno de todas as usinas nucleares. Esta monitorização deve ser independente da indústria nuclear e os resultados devem ser disponibilizados para o público.
15.7.
Organizações Associadas com a Indústria Nuclear Protegem a Indústria Primeiro –
Não o Público
1. Uma lição importante da experiência de Chernobil é que especialistas
e organizações ligadas à
indústria nuclear têm rejeitado
e ignorado as consequências
da catástrofe.
2. Em apenas 8 ou 9 anos após a catástrofe um aumento generalizado de catarata foi admitido por autoridades médicas. O mesmo ocorreu com câncer de tireoide, leucemia e distúrbios do sistema nervoso central. Lentidão no reconhecimento de problemas óbvios e os atrasos resultantes na prevenção da exposição e mitigação dos efeitos jazem na porta de defensores da indústria nucleares mais interessados em preservar o status quo do que ajudar milhões de pessoas inocentes que estão sofrendo sem terem culpa. É preciso mudar o acordo oficial entre a OMS e a AIEA (WHO, 1959) que fornece maneiras de ocultar do público qualquer informação que pode ser indesejada pela indústria nuclear.
15.8. É
Possível Esquecer Chernobil
1. Os dados crescentes sobre os efeitos negativos da catástrofe de Chernobil para a saúde pública
e a natureza não é uma boa
sinalização para otimismo. Sem programas
especiais nacionais e internacionais de larga escala, a morbidade
e mortalidade nos territórios contaminados
aumentarão. Moralmente é inexplicável o que os especialistas associados com a indústria nuclear dizem: "É hora de esquecer
Chernobil".
2. Políticas sólidas e eficazes, nacionais e internacionais, para mitigar e minimizar as consequências de Chernobil devem ser baseadas no princípio: "É necessário aprender e minimizar as consequências desta terrível catástrofe".
15.9.
Conclusão
O presidente
dos EUA, John F. Kennedy falando sobre a
necessidade de parar os testes
nucleares na atmosfera, disse em junho de 1963:
. . . O número de crianças com câncer em seus ossos, com leucemia no sangue, ou com
veneno em seus pulmões pode
parecer estatisticamente pequeno
para alguns, em comparação com os perigos naturais à saúde, mas este não é um perigo
natural para a saúde – e não é uma questão estatística.
A perda de até mesmo uma vida humana ou a
malformação de apenas um bebê – que pode nascer muito
depois que nos formos – deve
ser motivo de preocupação para todos
nós. Nossos filhos e netos não
são apenas estatísticas, às quais podemos ser indiferentes.
A catástrofe
de Chernobil demonstra que a
vontade da indústria nuclear em
arriscar a saúde da humanidade
e nosso ambiente, com usinas nucleares
vai resultar, não só teoricamente, mas na prática, no mesmo nível
de perigo que as armas nucleares.
Referências
Chernobyl
Forum (2005). Environmental Consequences of the Chernobyl Accident and Their
Remediation: Twenty Years of Experience. Report of the UN Chernobyl Forum
Expert Group “Environment” (EGE) Working Draft, August 2005 (IAEA, Vienna): 280
pp. (//www-pub.iaea.org/MTCD/publications/PDF/
Pub1239_web.pdf).
Kennedy,
J. F. (1963). Radio/TV address regarding the Nuclear Test Ban Treaty, July 26,
1963 (//www.ratical.org/radiation/inetSeries/ChernyThyrd.html).
Mulev,
St. (2008). Chernobyl’s continuing hazards. BBC News website, April 25, 17.25.
GMT (//www.news.bbc.co.uk/1/hi/world/europe/4942828.stm).
WHO
(1959). Resolution World Health Assembly. Rez WHA 12–40, Art. 3, §1 (//www.resosol.org/InfoNuc/IN_DI.OMS_AIEA.htm).
Conclusão do
Capítulo IV
Nos últimos
dias da primavera e início do
verão de 1986, radioatividade foi
liberada da usina de Chernobil e caiu sobre centenas
de milhões de pessoas. Os níveis resultantes de radionuclídeos eram centenas de vezes
maiores do que os da bomba atômica
de Hiroshima.
As vidas de dezenas de milhões foram destruídas. Hoje, mais de 6 milhões de pessoas vivem em terras com níveis perigosos de contaminação do solo – e continuarão contaminadas durante décadas ou até séculos. Então, perguntas pertinentes são: como viver e onde viver?
Nos
territórios contaminados pela
precipitação de Chernobil é
impossível praticar a agricultura de forma segura; impossível trabalhar com segurança na silvicultura, na pesca e caça;
e é perigoso usar produtos alimentares locais ou beber leite e até mesmo água. Aqueles que vivem nessas áreas perguntam como
evitar a tragédia de um filho ou
filha nascido com malformações
causadas pela radiação. Logo após a
catástrofe essas sérias questões surgiram entre
as famílias dos liquidadores, frequentemente tarde demais para evitar a tragédia.
Durante este tempo, complexas medidas para minimizar os riscos na agricultura e silvicultura foram desenvolvidos para aqueles que vivem nos territórios contaminados, incluindo a organização de proteção contra radiação individual, suporte para produção agrícola livre de radiação, e maneiras mais seguras na prática da silvicultura.
A maioria dos
esforços para ajudar as pessoas dos territórios contaminados são conduzidos por programas
estatais. O problema com esses
programas é a duplicidade de fornecer
ajuda enquanto espera minimizar
as acusações de que a precipitação
radioativa de Chernobil causou danos.
Para simplificar a vida para aqueles que sofrem dos efeitos da radiação uma grande quantidade de trabalhos educacionais e organizacionais tem que ser feito para monitorar radionuclídeos incorporados, monitorar (sem exceções) todos os géneros alimentícios, determinar doses cumulativas individuais usando métodos objetivos e fornecer aconselhamento médico e genético, especialmente para crianças.
Mais de 20 anos após a catástrofe, em virtude da migração natural de radionuclídeos, o perigo resultante nessas áreas não diminuiu, mas aumentou e continuará a crescer por muitos anos à frente. Assim, há a necessidade de expandir os programas para ajudar as pessoas que continuam sofrendo nos territórios contaminados, e isso exige assistência internacional, nacional, estadual e filantrópica.
(ɔ• .•)ɔ (ɔ• .•)ɔ (ɔ• .•)ɔ (ɔ• .•)ɔ Olha, eu estive procurando sobre tireóide na internet e encontrei um vídeo de um rapais que mostra técnicas muito boas, coisas que eu nem imaginava ser o motivo de eu não conseguir emagrecer como ele mesmo fala no vídeo (dicas que a industria do emagrecimento não quer que saibamos para continuar enriquecendo eles) logo quando encontrei o vídeo não estava levando muita fé no começo mais como vi muitos depoimentos de pessoas que estavam seguindo as dicas resolvi testar, e agora estou assim :-) feliz, hoje pela manha assim que vi os resultados, tirei uma foto é postei no face para que todos os meus amigos e amigas possam também ter os benefícios que eu estou tendo, vou aproveitar que o assunto aqui é esse vou deixar aqui o link do vídeo www.dietaparaemagrecerrapido.com.br
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